Até
posso ser organizada e ter orgulho dessa organização com o restante das minhas
coisas, mas manter bilhetes com qualquer lembrete será sinal de esquecimento,
afinal, o bilhete só será encontrado na próxima vez que mexer em um canto
qualquer na tentativa de desfazer-me de coisa antigas e até de recordar. Recordar pela última vez para só então esquecer. É quase um ritual.
Trechos
de livros então, tem vida própria. É aquele tipo de atitude costume entre
leitores: estar lendo um livro qualquer, então aquela frase incrível, que você
quer guardar pra toda vida, aquela frase que você sempre pensou, mas nunca a
escreveu, aparece. Você pega o primeiro pedaço de papel que encontra, o
primeiro rascunho e a transcreve ali. Pronto. Ela está imortalizada, está salva
para sempre.
Mas
isso acontece em média com umas quinze frases de cada livro, considerando que você
é um leitor assíduo, concluímos que: você nunca mais lembrará ou mesmo olhará
para a frase, e não saberá aonde cada qual vai se encontrar, afinal, a partir de
escritas, elas vão adquirir uma vida própria que jamais poderá ser tirada
delas. Pronto. Agora sua frase vai reproduzir-se e deverá cuidar de suas
próprias palavras. Você não terá domínio sobre nenhuma delas.
Pode até dizer com total convicção que de agora em diante tudo que escrever vai
permanecer neste caderno! E trancá-lo a cadeado, chave, mandinga. Sempre alguma
letrinha vai se salvar e dar origem a todas as outras, que vão pra onde
quiserem e fazem o que bem entenderem.
E
o pior é que percebi que prefiro assim, não conseguiria organizar, tratar,
vigiar, dar toda a assistência e o cuidado que elas merecem, se todas se
mantivessem no mesmo lugar. É preciso desfazer-se delas pra que só então elas
possam crescer e fazer a diferença que tanto sonham.
É,
essas coisas hoje em dia são assim: damos origem às palavras e criamos frases
para o mundo, nunca para nós mesmos.