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16 de dezembro de 2014

A calmaria plena

Parece tão fácil falar de felicidade... Entre seus muitos significados complexos, a felicidade resume-se (se é que se pode resumi-la) em tudo aquilo capaz de nos proporcionar momentos que se eternizarão em nossa memória e em nosso coração. A felicidade não deve ser entendida como o êxtase, e sim como a calma que nos torna mais conscientes e acolhedores ao universo do qual fazemos parte e que está constantemente se manifestando em suas mais variadas formas de vida.

Mas o que realmente consome todas as forças que acreditamos ter, e que nos abala de tal forma que optamos por evitar até proferir a palavra é a tristeza, é a indiferença. A felicidade é a meta impregnada em todos os padrões e em nossas buscas: quando tivermos um emprego seremos felizes, ou quando nos formarmos, ou casarmos, ou realizarmos todos os nossos sonhos... E assim a felicidade é adiada dia após dia, enquanto a vida continua prosseguindo, independente dos sentimentos correspondentes a ela.

Deve ser até um pecado isso de estar triste em dias tão bonitos. Parece que qualquer ser ou força sobrenatural em que você deposite suas crenças estão dando o máximo de si para proporcionar um dia agradável, um dia claro, um dia para viver. E você aí, remoendo tudo de ruim que pode existir em seu interior. E enquanto isso o sol está lá, brilhando com todas as forças possíveis.

Este texto é escrito no escuro (literalmente) de uma noite insone, amanhã o resultado que verei não será o desejado – as palavras serão incompreensíveis, as frases não possuirão sentido algum – mas mesmo assim escrevo. Talvez a vida de alguém dependa disso. Ou a minha própria vida.

3 de dezembro de 2014

Divagações sobre uma ponte

No início não parece tão difícil: a superfície é mais estável do que você acreditava ser, então segue adiante, sem nem olhar para trás. Mas é nos primeiros passos que a ponte desestabiliza e começa a balançar. Lá embaixo, o rio, cheio de pedras e correnteza. Você não pode distrair-se, pode ser fatal. Não pode dar passos em falso, assim como não pode andar tão rápido, pois isso deixa a superfície ainda mais inconstante. Mas ao mesmo tempo, se for devagar demais, fará com que o percurso pareça ainda maior.
É preciso haver um equilíbrio, mesmo que a situação inspire o contrário. Não olhar para baixo, mas sempre em frente, onde tudo causa a falsa impressão de estar firme, em segurança.
Você chega exatamente ao meio do caminho, não encontra nenhuma pedra, como poderia supor Carlos Drummond de Andrade. Você pode seguir em frente, mas o medo insiste em permanecer. Então você continua com medo mesmo, até que a inconstância da ponte supere a da sua própria mente.

7 de outubro de 2014

Passarinho voando longe, parece borboleta que fugiu de casa...

Você quer voar, literal e figurativamente. Ganhar asas, altura e manter-se no ar dependendo apenas de sua autoconfiança. Ganhar o mundo pela força, mas não a força física, essa é facilmente adquirida. Carregar o mundo como se ele fosse uma extensão de suas próprias asas. Suas incríveis asas, mas que além do embelezamento ainda não adquiriram funções determinadas, afinal, alçar voo talvez o mantenha distante de si mesmo, distante do previsível mundo criado por você. 
Não nos avisaram as diferenças existentes do mundo quando visto de dentro de um casulo, ou quando é visto em sua imensidão, de lá do céu. Por que depois de ganharmos asas, essa será nossa eterna visão do mundo: como esse pontinho insignificante que somos, em uma galáxia tão imensa e desconhecida, onde em algum lugar do horizonte, o bater de asas de uma singela borboleta talvez possa mesmo influenciar o curso natural das coisas e provocar um tufão do outro lado do mundo. Ou talvez o “curso natural das coisas” seja somente uma criação subjetiva e o bater de asas desta borboleta mude apenas a sua própria consciência, em relação ao restante do mundo existente fora de seu casulo, em nada modificando as vidas que permanecem dentro dele, em sua individualidade.

“É mais corajoso quem não tem medo de voar pelo mundo ou quem aguenta ficar dentro de si?” 
Tati Bernardi.

25 de setembro de 2014

Tão perto e desprotegida

Existe situação pior do que haver duas opções, porém ambas terríveis?
Há uma tênue linha entre salvar e abandonar, mas as duas parecem inviáveis considerando que você quer apenas estar junto, sem que a continuidade da vida de alguém dependa dessa decisão. Porque querendo ou não, é apenas uma complexa questão de escolha, pela qual você nem desejou escolher.

16 de setembro de 2014

Somos constituídos historicamente

Somos grandes, sólidas e mutáveis construções históricas, nenhum fóssil, antepassado ou historiador pode afirmar isso com tanta certeza quanto a nossa própria alma. Ela às vezes sente saudades desses tempos e quer voltar, mas não a deixamos ir sozinha muito longe. O mundo é tão perigoso para nossas almas infantis, e elas precisam ganhar confiança de que podem conviver sozinhas no mundo externo, mas a verdade é que são necessárias ainda muitas evoluções para tornarem-se quem estão destinadas a ser. Tudo o que nossas almas desejam é serem vistas como infinitas. Assim como nós mesmos somos.


28 de agosto de 2014

As palavras escritas: com destino à liberdade

Até posso ser organizada e ter orgulho dessa organização com o restante das minhas coisas, mas manter bilhetes com qualquer lembrete será sinal de esquecimento, afinal, o bilhete só será encontrado na próxima vez que mexer em um canto qualquer na tentativa de desfazer-me de coisa antigas e até de recordar. Recordar pela última vez para só então esquecer. É quase um ritual.
Trechos de livros então, tem vida própria. É aquele tipo de atitude costume entre leitores: estar lendo um livro qualquer, então aquela frase incrível, que você quer guardar pra toda vida, aquela frase que você sempre pensou, mas nunca a escreveu, aparece. Você pega o primeiro pedaço de papel que encontra, o primeiro rascunho e a transcreve ali. Pronto. Ela está imortalizada, está salva para sempre.
Mas isso acontece em média com umas quinze frases de cada livro, considerando que você é um leitor assíduo, concluímos que: você nunca mais lembrará ou mesmo olhará para a frase, e não saberá aonde cada qual vai se encontrar, afinal, a partir de escritas, elas vão adquirir uma vida própria que jamais poderá ser tirada delas. Pronto. Agora sua frase vai reproduzir-se e deverá cuidar de suas próprias palavras. Você não terá domínio sobre nenhuma delas.
Pode até dizer com total convicção que de agora em diante tudo que escrever vai permanecer neste caderno! E trancá-lo a cadeado, chave, mandinga. Sempre alguma letrinha vai se salvar e dar origem a todas as outras, que vão pra onde quiserem e fazem o que bem entenderem.
E o pior é que percebi que prefiro assim, não conseguiria organizar, tratar, vigiar, dar toda a assistência e o cuidado que elas merecem, se todas se mantivessem no mesmo lugar. É preciso desfazer-se delas pra que só então elas possam crescer e fazer a diferença que tanto sonham.
É, essas coisas hoje em dia são assim: damos origem às palavras e criamos frases para o mundo, nunca para nós mesmos.

24 de agosto de 2014

Sem título até que eu descubra o nome deste sentimento

Quer dizer que estes velhos olhos cansados não perderam a ternura e ainda são capazes de brilhar, mesmo com tantos “poréns”?
É motivador pensar nisso, especialmente considerando que se trata de segundas-feiras, meus segundos dias mais odiados da semana.
Na maior parte das vezes (se não todas), a vida resume-se em quantos momentos aceleraram o seu coração e quais mudanças foram ocasionadas por esta sua falta de controle sobre si mesmo. As mudanças? Na maior parte das vezes são drásticas, parecem roubar toda a sua sanidade ainda existente, tiram você do rumo, percurso, ritmo, rotina, fazendo-o sonhar novamente. O tornam ser humano, no mais puro dos sentidos existentes para esta expressão.

25 de julho de 2014

Eternidades

Exatas doze horas.
Então, os sinos começaram a tocar.
Eles tocaram por um período aproximado de dois minutos, ininterruptamente, o que fez com que parecesse uma eternidade. E dentro dessa pequena eternidade, tudo ficou em câmera lenta. Não havia mais os costumeiros barulhos da vida acontecendo.
Tudo se silenciou em meio ao toque barulhento dos sinos. Eu sei que parece contraditório, mas foi isso que aconteceu. As pessoas, que antes sabiam fisicamente para onde estavam indo, ficaram expostas em suas inseguranças, em sua lentidão incriminadora.
Nesse instante tudo era vago, como se apenas vagar sem rumo fosse o que viemos fazendo durante todo o percurso percorrido. Mas sempre com a falsa ideia de estar indo a algum lugar, e mais: de estar indo muito longe. Mas veja agora onde estas pessoas estão, caminhando em câmera lenta, sem sair do lugar, presas em suas próprias consciências que não as permitem prosseguir.

14 de julho de 2014

A insustentável essência de quem somos


Tudo o que vivemos e o que somos não passa de uma mentira. É assustador pensar assim, não é? Pois essa é a verdade. Ou seria a mentira? Assim é o mundo que consideramos “real”, é cheio de dúvidas, incertezas, ninguém sabe quem é, o que busca, aonde quer chegar.

A palavra essência é definida como a natureza que constitui um ser, a composição fundamental de qualquer existência. Mas atualmente o que se pode perceber são máscaras que parecem se sobrepor umas às outras, criando uma grossa camada de hipocrisia que insiste em disfarçar a essência de toda uma vida, vivida na ânsia de apenas existir conforme o que espera-se de nós, onde o que somos verdadeiramente permanece quase intacto, porém profundamente escondido em nosso ser.

É a ganância, é a ignorância. Não somos mais nós mesmos.  Aliás, quem éramos “nós” antes dessa inversão toda de valores, de escolhas, de personalidades? Quem eu era e quem eu sou?
Não há nenhuma delimitação clara que indique em que momento essas mudanças ocorreram. Não há uma fase antes e depois, toda ela é constituída de “agoras”. E é exatamente isso que causa tanta aflição.

Ao encontrarmos ou ouvirmos falar de algo até então desconhecido, lá estamos todos criando conceitos, formas, suposições e argumentos para tentar descrevê-lo, tentar colocá-lo nos padrões já existentes. Ninguém consegue se conformar e aceitar o fato de não possuir poder sobre tudo, aliás, não temos poder sobre nada, apenas sobre nossas próprias mentiras.

E o primeiro passo é justamente aceitar e admitir: não sabemos de nada. Mas ainda assim, não há motivos para desespero. Apesar de tudo que parece nos influenciar e modificar a todo o momento, nossa essência continua intacta. Abaixo de todas as camadas que nos encobrem e nos escondem, ainda não estamos totalmente perdidos, a essência não se modificará por completo e tudo o que precisamos é reencontrá-la em meio aos escombros do que acreditamos ser.

"Nenhuma época soube tantas e tão diversas coisas do homem como a nossa. Mas em verdade, nunca se soube menos o que é o homem." Martin Heidegger

Texto escrito por Juliana Gazola e originalmente publicado no site Refletindo.


26 de junho de 2014

A finalidade dos finais


A verdade é que o final de qualquer história, seja ela real ou fictícia, é o que te motiva a continuar. A expectativa em saber o que acontecerá, a chance de sorrir incansavelmente, ou chorar até que não restem mais lágrimas. De uma maneira ou de outra, é o final que todos esperam ansiosamente desde o começo.
Não consigo acreditar que ainda possa existir alguém que realmente espera que algo dure “para sempre”. Isso já foi testado por milhares de pessoas inocentes da realidade, e comprovado: tudo tem um fim. Mas você continua, porque mesmo que não admita você quer ver qual será a sua reação diante de um fim inevitável, você precisa ver o quão suficientemente forte é, para que possa investir mais alto na próxima decepção.
Finais podem ser assustadores ou renovadores. É uma questão de escolha: recomeçar, com todas as expectativas, histórias, pessoas, sonhos; ou permanecer preso ao passado, até que o passado resolva te jogar para o presente, onde viverá das lembranças do que poderia ter sido e não se tornou real. 

14 de junho de 2014

A vida em um dia


Se há um documentário que não canso de assistir e sempre recomendo é este: A Vida em um Dia. Ele consiste em uma série de vídeos selecionados entre os milhares que foram enviados para uma conta no YouTube, no dia 24 de julho de 2010. O motivo? Retratar um único dia da vida destas pessoas, mostrando o que acontecia nas mais diversas partes do mundo. O resultado? 4.500 horas de vídeos, de 192 países. 

Todos nós já estamos cansados de saber que existem bilhões de pessoas no mundo inteiro, mas poucas ou inexistentes são as vezes que paramos para pensar verdadeiramente sobre isso e percebemos que esses bilhões de pessoas existentes não são apenas números, todas elas são seres vivos como a gente, com suas variadas culturas, tradições, crenças, paixões, sentimentos, são pessoas que sofrem, choram, vivem. 

Bilhões de pessoas que se cruzam todos os dias constantemente, que vivem as mesmas experiências que a gente, que sonham, tem esperanças e também que as perdem, assim como acontece conosco muitas vezes, que levam a vida com seus pequenos e grandes gestos de sobrevivência diária. Seres tão complexos que preferem definir-se como “comuns”, pela simples incapacidade de explicar-se, são pessoas vivendo os seus melhores e piores dias, são esses seres, humanos em sua totalidade, com as falhas, mas acima de tudo com os acertos que os tornam dignos de pertencer a este mundo repleto de contrastes. 

É um dia onde são retratadas ao redor do mundo as famílias, o convívio, mas também a solidão. São as vidas que surgem e se esvaem no decorrer deste dia. Os conflitos seja com o mundo ou com seu próprio interior. Os medos e os atos heroicos. Seus rituais, de comemoração ou de pesar. 

São as vidas que não conhecemos, mas estão ali, existindo independente de nossas crenças ou opiniões sobre elas, é a prova de que nem todos os dias são incríveis, com coisas maravilhosas acontecendo, pelo contrário, a maioria deles passa apenas de forma indiferente. Mas são as novidades, a expectativa de algo que ainda não conhecemos que nos motiva a viver todos eles, afinal, por piores que possam parecer os dias sempre chegam ao fim. São essas aventuras cotidianas, cujo conjunto denominamos vida. E ela está sempre acontecendo.


Texto escrito por Juliana Gazola e originalmente publicado no site Refletindo.

28 de março de 2014

Sobre crises de identidade (agora da vida adulta)

Então você agora é “oficialmente” adulto: atinge a maioridade, começa a fazer faculdade, a trabalhar, assume as responsabilidades, enfrenta a vida corrida que muitas vezes almejou ter, principalmente em seus momentos de ócio mais profundo. São as escolhas que sempre pensou a respeito, mas nunca as tinha vivenciado, são as decisões do teu futuro, da tua vida agora em diante. 
Tudo pode estar absolutamente certo, seja por conspiração cósmica, seja por uma feliz ironia do destino, seja por seu próprio mérito. Mas se algo der errado, uma coisinha simples que faça desmoronar todo o resto do percurso, será você a única pessoa responsável, a única a assumir e sofrer as consequências, a estrutura que pode ser reerguida, ou continuar caída ao chão. Você não vai se salvar se não permitir-se mergulhar.

P.s: tenho uma boa justificativa para a foto escolhida, mas ela não vem ao caso agora.

1 de janeiro de 2014

Finais ou (re)começos?

Essa época de Ano Novo é sempre o mesmo completo clichê social, com as recordações do quanto o ano que passou foi incrível, porque nas nossas memórias ele assim parece ter sido, mesmo que na realidade tenhamos passado o ano todo reclamando dos mais diversos motivos, tudo agora é visto como maravilhoso. Mas e esse próximo ano que agora se inicia?
Ele tem tudo para ser o ano de nossas vidas, aquele em que todos nossos sonhos se realizarão, não seremos pessoas tristes, não sentiremos solidão, não choraremos (a não ser por emoção), não perderemos as esperanças, seremos compreensivos, tolerantes, pacientes... Esse ano será uma eterna festa! É isso o que somos levados a acreditar, inclusive por nós mesmos.
Mas a realidade é que enquanto tudo que fazemos é comemorar, a vida realmente parece muito fácil, mas com o passar do tempo somos novamente atingidos pela rotina, por voltar ao trabalho que tanto odiamos, as aulas que somos “obrigados” a frequentar, e então mesmo depois de todas as promessas feitas, ainda permanecemos vítimas de nossas próprias escolhas.

Muito mais do que um “Ano Novo”, desejo coragem para que possamos modificar o ano e a nossa vida.