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22 de março de 2015

A borboleta do outro lado da janela

Será que existe coisa pior que esta? Refiro-me a inspiração ali, parada, exatamente ao meu lado, só esperando por ser escrita. Enquanto a aqui dita escritora, permanece alheia a vontade de outra criatura que não a si própria e a seus pensamentos, infelizmente nada tendo a ver com as palavras soltas, expostas na transparência do vidro. Mas sinto em lhe dizer que a culpa também foi sua, querida amiga borboleta. Você estava tão perto, mas ainda assim inacessível, escolhendo para seu repouso o lado “errado” da janela: o lado de fora. Estando, portanto, inalcançável mesmo com tanta proximidade.
Fico te devendo essa. Conto com sua colaboração na próxima.

15 de março de 2015

Reflexões... Desta vez sobre uma porta

Mas afinal, o que pode haver de reflexivo em um objeto concreto, morto, estático, que nem mesmo “existe”? (Ou seja, não é capaz de perguntar-se sobre sua própria existência, filosoficamente falando).
Pois onde há pessoas, há interação (até mesmo com uma porta) e, consequentemente, há reflexão. 
Então, imaginemos a seguinte situação: a porta estava aberta, até que uma corrente de vento a fecha, involuntariamente. A partir de então, todas as pessoas que chegarem e por ela passarem para entrar nesta sala, onde em breve começará a minha aula (e a de mais sessenta e quatro pessoas), fecha a porta, deixando-a da maneira que encontrou ao chegar. Isso sem nunca imaginar que minutos antes ela estava aberta e um pequeno acontecimento, ao acaso, foi capaz de mudar toda uma sequência de fatos.

7 de março de 2015

Antropologiando

Um cachorro aparentemente perdido, apesar de estar bem cuidado e com coleira, indicando que sua casa ou donos não devem estar tão distantes. Sexta-feira, final da primeira longa semana de aula na faculdade após as férias. Das impressões adquiridas, observadas e assimiladas acerca da situação e ambientes rotineiros.
Das pessoas que passam pelo cachorro, grande parte interroga: Outro? Vamos abrir medicina veterinária aqui!? Outra transeunte pronuncia frases ininteligíveis, típicas de conversação com bebês e animais domésticos. Em um banco próximo um rapaz fuma, comenta sobre o quanto o cachorro está limpo (deve ser a mim que ele dirige sua fala, sou a única que está ali e com o cachorro é pouco provável que ele puxe assunto, muito menos elogiando sua higiene). Estou interagindo com meu objeto de estudo.  O homem sai e volta acompanhado de uma senhora um pouco debilitada, que ele prontamente ajuda a sentar-se, fuma outro cigarro, discute sobre a vida e o quão difícil é conviver com uma pessoa. Até que minha colega chega e proclama: Juliana, da tchau pro cachorro, estamos indo embora.