Páginas

15 de novembro de 2015

Para desentristecer

O canto dos passarinhos. A natureza. A calma, mas entendida como característica diferente do silêncio. Não há silêncio, pelo contrário: há gritos, há tumulto (interior e exterior). Mas o exterior é proveniente das crianças que aqui estão, elas só estão sendo elas mesmas. (Há sentimento mais recompensador que este?)
E o tumulto interior, bem, todos já sabem de onde vem. Ele está instaurado: fez moradia, de mala e cuia, como costuma-se dizer aqui no sul.
Porém, descobri que ele não é tão mau vizinho assim. Eventualmente discutimos um pouco, mas tudo é resolvido quando tomo o controle da situação e proclamo: quem manda aqui sou eu, se você não está feliz que vá embora!
Ele não vai, mas se acalma. Posso então ter de volta essa falsa sensação de paz, mas que parece já ser o suficiente.

7 de novembro de 2015

Ferida aberta e exposta (Esse texto não deveria estar aqui)

O que fazer quando não mais sabemos o que fazer?
Faz um bom tempo que tenho gradualmente me afastado mais de qualquer possível rumo que a vida pudesse adquirir. Algumas pessoas convivem bem com a rotina, onde tudo está pré-estabelecido, afastando a margem de erro; já outras, preferem e se adaptam mais facilmente a imprevisibilidade dos dias. Sempre mantive certo orgulho de fazer parte do primeiro grupo: nunca precisei que nada de surpreendente acontecesse para que eu visse beleza nos dias, em todos eles, até nos mais sombrios. Mas e agora que não parece haver mais nada realmente previsível, como viver nessa inconstância?
Reconheço o quão idiota e sem sentido tudo isso soa, todos afirmam e me relembram constantemente o quanto minha vida é boa, o quanto tenho sido burra por alimentar isso. Mas então, eu os imploro: o que eu faço?
Como disse certa vez Vinicius de Moraes... Acontece que eu sou triste. Não é por livre e espontânea vontade. Não sei em que momento me tornei assim, se é que houve algum, ou essa é uma característica que vem se formando ao longo de meus dezenove anos. Mas eu sou assim, e desde que me reconheço por gente, sempre fui. Simplesmente desenvolvi técnicas próprias que me permitiram lidar maduramente com isso. Mas minhas forças tem se mostrado abaladas.
Sempre fui a fortaleza que devia transmitir força para outros seres que a necessitassem e buscassem ajuda, quando a surgida de seu próprio interior não fosse suficientemente forte para a manter íntegra. Mas e como reabastecer uma fortaleza que se apresenta escassa de sua matéria-prima, a força? Todos parecem já estar esgotados por si mesmos, ninguém deve ser obrigado a arcar com tamanha responsabilidade física e moral.
Talvez seja apenas uma questão simples. Mas é na simplicidade que as coisas demonstram sua complexidade.

Esse texto não deveria estar aqui, mesmo. Mas ele está, e provavelmente continuará. Como uma ferida aberta e exposta, mas que com o tempo vai cicatrizar.