O que fazer quando não mais sabemos o que fazer?
Faz um bom tempo que tenho gradualmente me afastado mais de
qualquer possível rumo que a vida pudesse adquirir. Algumas pessoas convivem
bem com a rotina, onde tudo está pré-estabelecido, afastando a margem de erro;
já outras, preferem e se adaptam mais facilmente a imprevisibilidade dos dias.
Sempre mantive certo orgulho de fazer parte do primeiro grupo: nunca precisei
que nada de surpreendente acontecesse para que eu visse beleza nos dias, em
todos eles, até nos mais sombrios. Mas e agora que não parece haver mais nada
realmente previsível, como viver nessa inconstância?
Reconheço o quão idiota e sem sentido tudo isso soa, todos
afirmam e me relembram constantemente o quanto minha vida é boa, o quanto tenho
sido burra por alimentar isso. Mas então, eu os imploro: o que eu faço?
Como disse certa vez Vinicius de Moraes... Acontece que eu sou triste. Não
é por livre e espontânea vontade. Não sei em que momento me tornei assim, se é
que houve algum, ou essa é uma característica que vem se formando ao longo de
meus dezenove anos. Mas eu sou assim, e desde que me reconheço por gente,
sempre fui. Simplesmente desenvolvi técnicas próprias que me permitiram lidar
maduramente com isso. Mas minhas forças tem se mostrado abaladas.
Sempre fui a fortaleza que devia transmitir força para
outros seres que a necessitassem e buscassem ajuda, quando a surgida de seu
próprio interior não fosse suficientemente forte para a manter íntegra. Mas e
como reabastecer uma fortaleza que se apresenta escassa de sua matéria-prima, a
força? Todos parecem já estar esgotados por si mesmos, ninguém deve ser
obrigado a arcar com tamanha responsabilidade física e moral.
Talvez seja apenas uma questão simples. Mas é na simplicidade
que as coisas demonstram sua complexidade.
Esse texto não deveria estar aqui, mesmo. Mas ele está, e
provavelmente continuará. Como uma ferida aberta e exposta, mas que com o tempo
vai cicatrizar.