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25 de julho de 2014

Eternidades

Exatas doze horas.
Então, os sinos começaram a tocar.
Eles tocaram por um período aproximado de dois minutos, ininterruptamente, o que fez com que parecesse uma eternidade. E dentro dessa pequena eternidade, tudo ficou em câmera lenta. Não havia mais os costumeiros barulhos da vida acontecendo.
Tudo se silenciou em meio ao toque barulhento dos sinos. Eu sei que parece contraditório, mas foi isso que aconteceu. As pessoas, que antes sabiam fisicamente para onde estavam indo, ficaram expostas em suas inseguranças, em sua lentidão incriminadora.
Nesse instante tudo era vago, como se apenas vagar sem rumo fosse o que viemos fazendo durante todo o percurso percorrido. Mas sempre com a falsa ideia de estar indo a algum lugar, e mais: de estar indo muito longe. Mas veja agora onde estas pessoas estão, caminhando em câmera lenta, sem sair do lugar, presas em suas próprias consciências que não as permitem prosseguir.

14 de julho de 2014

A insustentável essência de quem somos


Tudo o que vivemos e o que somos não passa de uma mentira. É assustador pensar assim, não é? Pois essa é a verdade. Ou seria a mentira? Assim é o mundo que consideramos “real”, é cheio de dúvidas, incertezas, ninguém sabe quem é, o que busca, aonde quer chegar.

A palavra essência é definida como a natureza que constitui um ser, a composição fundamental de qualquer existência. Mas atualmente o que se pode perceber são máscaras que parecem se sobrepor umas às outras, criando uma grossa camada de hipocrisia que insiste em disfarçar a essência de toda uma vida, vivida na ânsia de apenas existir conforme o que espera-se de nós, onde o que somos verdadeiramente permanece quase intacto, porém profundamente escondido em nosso ser.

É a ganância, é a ignorância. Não somos mais nós mesmos.  Aliás, quem éramos “nós” antes dessa inversão toda de valores, de escolhas, de personalidades? Quem eu era e quem eu sou?
Não há nenhuma delimitação clara que indique em que momento essas mudanças ocorreram. Não há uma fase antes e depois, toda ela é constituída de “agoras”. E é exatamente isso que causa tanta aflição.

Ao encontrarmos ou ouvirmos falar de algo até então desconhecido, lá estamos todos criando conceitos, formas, suposições e argumentos para tentar descrevê-lo, tentar colocá-lo nos padrões já existentes. Ninguém consegue se conformar e aceitar o fato de não possuir poder sobre tudo, aliás, não temos poder sobre nada, apenas sobre nossas próprias mentiras.

E o primeiro passo é justamente aceitar e admitir: não sabemos de nada. Mas ainda assim, não há motivos para desespero. Apesar de tudo que parece nos influenciar e modificar a todo o momento, nossa essência continua intacta. Abaixo de todas as camadas que nos encobrem e nos escondem, ainda não estamos totalmente perdidos, a essência não se modificará por completo e tudo o que precisamos é reencontrá-la em meio aos escombros do que acreditamos ser.

"Nenhuma época soube tantas e tão diversas coisas do homem como a nossa. Mas em verdade, nunca se soube menos o que é o homem." Martin Heidegger

Texto escrito por Juliana Gazola e originalmente publicado no site Refletindo.