Em um de seus mais célebres poemas, Bukowski atribui a um
pássaro, o pássaro em seu peito que quer sair e não é autorizado a fazê-lo, a
cor azul. Mas diferentemente de Bukowski, deixo o meu pássaro livre para sair
quando assim ele desejar. Mesmo que nossas vontades, de sair e permanecer, nem sempre correspondam entre si.
Minha atitude pode não ser tão esperta quanto à do
escritor. O pássaro pode sim me arruinar, ainda mais usufruindo de tamanha
liberdade, mas prefiro confiar que ele não o fará. E quando chega o momento de
meu pássaro, que não é azul, aconchegar-se novamente em seu lar, ele também se
permite entristecer. E seu canto, outrora tão alegre, exprime o quão vivo encontra-se.
Sua cor? Arrisco dizer que possivelmente tons alaranjados.
Talvez da mesma tonalidade que o sol ao amanhecer. Talvez o pássaro que em mim
vive e comigo tem convivido seja originário do próprio sol. Isso explicaria
porque minha alma se sente tão bem quando exposta ao sol. O pássaro que em meu corpo
vive se sente novamente em casa. E eu não permitirei que ele deixe de cantar,
por mais doloroso que isso às vezes seja.