Páginas

28 de agosto de 2014

As palavras escritas: com destino à liberdade

Até posso ser organizada e ter orgulho dessa organização com o restante das minhas coisas, mas manter bilhetes com qualquer lembrete será sinal de esquecimento, afinal, o bilhete só será encontrado na próxima vez que mexer em um canto qualquer na tentativa de desfazer-me de coisa antigas e até de recordar. Recordar pela última vez para só então esquecer. É quase um ritual.
Trechos de livros então, tem vida própria. É aquele tipo de atitude costume entre leitores: estar lendo um livro qualquer, então aquela frase incrível, que você quer guardar pra toda vida, aquela frase que você sempre pensou, mas nunca a escreveu, aparece. Você pega o primeiro pedaço de papel que encontra, o primeiro rascunho e a transcreve ali. Pronto. Ela está imortalizada, está salva para sempre.
Mas isso acontece em média com umas quinze frases de cada livro, considerando que você é um leitor assíduo, concluímos que: você nunca mais lembrará ou mesmo olhará para a frase, e não saberá aonde cada qual vai se encontrar, afinal, a partir de escritas, elas vão adquirir uma vida própria que jamais poderá ser tirada delas. Pronto. Agora sua frase vai reproduzir-se e deverá cuidar de suas próprias palavras. Você não terá domínio sobre nenhuma delas.
Pode até dizer com total convicção que de agora em diante tudo que escrever vai permanecer neste caderno! E trancá-lo a cadeado, chave, mandinga. Sempre alguma letrinha vai se salvar e dar origem a todas as outras, que vão pra onde quiserem e fazem o que bem entenderem.
E o pior é que percebi que prefiro assim, não conseguiria organizar, tratar, vigiar, dar toda a assistência e o cuidado que elas merecem, se todas se mantivessem no mesmo lugar. É preciso desfazer-se delas pra que só então elas possam crescer e fazer a diferença que tanto sonham.
É, essas coisas hoje em dia são assim: damos origem às palavras e criamos frases para o mundo, nunca para nós mesmos.

Um comentário:

Matti Lioncourt de Romanus disse...

É... talvez deixar as frases se reproduzirem seja o certo. Talvez seja até mais divertido assim, não é? É assim que as pessoas vão ler, vão interpretar, reproduzir ou até adaptar aquela frase que você criou.

"Criamos nossos filhos para o mundo." Da mesma forma que alguém escreveu as sua frase em um livro, você vai ter escrito a frase de outra pessoa em um caderno e assim sucessivamente.

Talvez e somente talvez, tenhamos nosso momento de egoísmo logo após escrever e ali pensamos "vou guardar isso". Mas logo em seguida jogamos tudo no vento.

Eu, ao menos, creio que as palavras tem vida própria e tem que ter a mesma liberdade que tivemos para usá-las.